Algumas palavras sobre Paralisia Cerebral
Segundo a autora, a PC é uma das formas de deficiência mais freqüente entre a população de idade escolar. Os alunos com PC encontram-se com sintomatologias muito diversas e de prognósticos muito variados.
A PC não é uma doença, mas sim um quadro ou um estado patológico; então a criança deve receber toda a atenção, a reabilitação física e a educação.
A criança com PC não deve considerada como uma criança doente, mas como uma pessoa com características específicas, das quais decorrem necessidades especiais que pais, amigos, professores, especialistas diversos procuram atender da melhor maneira possível.
A PC afeta o desenvolvimento da motricidade e da linguagem, o desenvolvimento cognitivo e a interação social da criança; sendo que vai depender se a PC alterará diretamente o desenvolvimento de tais habilidades, de forma que, dependendo da lesão, a criança adquirirá mais tarde e de forma autônoma ou defeituosa. O profissional especializado necessitará dar toda a atenção para os pacientes com PC.
As formas de PC podem ser classificadas pela topografia corporal e por seus efeitos funcionais. Dentro dos efeitos funcionais os quadros clínicos mais comuns são: a espasticidade, a atetose e a ataxia, e outros não tão comuns como a rigidez e os tremores. Na topografia corporal encontramos a paraplegia, a tetraplegia, a monoplegia e a hemiplegia. É importante ressaltar que uma tipologia não aparece sozinha e sim combinada com outra.
A espasticidade é uma lesão que consiste em um crescimento acentuado do tônus muscular; atetose é uma dificuldade em controlar e coordenar os movimentos voluntários; a ataxia é uma síndrome que altera o equilíbrio e os movimentos, ela nunca aparece sozinha, manifesta-se juntamente com a atetose. A rigidez é “uma acentuada hipertonia, tanto dos músculos agonistas como antagonistas, que pode chegar a impedir qualquer movimento” (BRASIL, 2004, p. 217); os tremores são movimentos breves, rápidos e que oscilam podendo ser constantes ou não.
Na topografia corporal, a paraplegia é uma doença grave que atinge as duas pernas; a tetraplegia afeta os membros superiores e inferiores; a monoplegia afeta apenas uma extremidade; e a hemiplegia afeta metade do corpo.
A PC é uma das deficiências motoras mais comuns entre as crianças em idade escolar, porém não é a única. Podemos encontrar alunos com outros transtornos como os traumatismos craniencefálicos que são lesões no encéfalo provenientes de acidentes, quedas ou agressões; a espinha bífida que é uma anomalia congênita da coluna cerebral que pode acarretar paralisia, perda na sensibilidade cutânea e problemas de circulação do líquido cefalorraquidiano; as miopatias ou distrofias musculares que consistem na progressiva degeneração dos músculos, acarretando a perda da força.
# Fatores etiológicos e idéias sobre prevenção
Os fatores etiológicos se originam de diferentes transtornos.
A poliomielite, osteomielite e a tuberculose óssea são de origem microbiana; as miopatias ou distrofias musculares são de origem genética; os traumatismos craniencefálicos são causados por acidentes e existem outros transtornos cuja causa é desconhecida.
A lesão cerebral que origina a PC pode obedecer a três grupos:
1- Causas pré-natais
1.1-Doenças infecciosas: rubéola, sarampo, sífilis, herpes etc.; ou a mãe pode contrair doenças ou intoxicação intra-uterinas e o feto não morrendo, pode haver seqüelas como: meningite, toxoplasmose e outras.
É importante que durante a gravidez a mãe se submeta a consultas periódicas, seguindo corretamente as orientações médicas; com isso se previne de atitudes erradas como a automedicação.
1.2- As anoxias: que são distúrbios da oxigenação fetal que causam dano ao cérebro, por ocasião de insuficiência cardíaca, anemia, hipertensão, etc. que a mãe pode apresentar.
1.3- Doenças metabólicas congênitas como: galactosemia que é um defeito no metabolismo dos hidratos de carbono; a fenilcetonúria que é um defeito no mecanismo dos aminoácidos; etc. Tem efeitos que se manifestam depois do nascimento, quando a criança começa a ingerir determinados alimentos que não podem metabolizar, trás por conseqüência um acumulo de substancia tóxicas que causam lesão ao cérebro.
A detecção precoce pode prevenir as conseqüências da doença, prescrevendo a criança a um regime alimentar adequado.
1.4- Incompatibilidade de Rh: produz-se em crianças Rh positivo, nascidas de mães Rh negativas previamente sensibilizadas, isso que dizer que: a sensibilização pode ocorrer quando a mãe teve antes outro filho ou aborto Rh positivo ou contato com sangue Rh positivo, Os anticorpos da mãe sensibilizados provocam a destruição dos glóbulos vermelhos da criança, ocasionando um excesso de bilirrubina que causa danos as células cerebrais.
Esse transtorno pode ser prevenido injetando na mãe anticorpos de mulheres previamente sensibilizadas depois de cada gravidez Rh positivo,o que impede a formação de anticorpos na gravidez seguinte; pode-se evitar danos cerebrais mediante uma transfusão de sangue do feto ou do bebê.
2- Causas perinatais
2.1- Anoxia e asfixia: ocorre por obstrução do cordão umbilical, ou pela anestesia, seja por exceder uma determinada quantidade ou por um parto prolongado, ou outros fatores.
2.2- Traumatismos: ocorridos durante o parto devido utilização de fórceps; etc.
2.3- Mudanças bruscas de pressão: por exemplo, uma cesárea.
Em alguns casos, a prematuridade ou a hipermaturação também pode trazer complicações que resulte em dano cerebral.
3- Causas pós-natais: ocorrem durante a maturação do sistema nervoso, aproximadamente durante os três primeiros anos de vida. As que se destacam são: meningite ou encefalite, os traumatismos na cabeça por acidentes graves-acidentes anestésicos, desidratações, transtornos vasculares e outros.
A prevenção se dá pelo conhecimento dos fatores etiológicos da PC que permite uma serie de medidas preventivas. Tem a prevenção primaria, voltada a diminuição da incidência do transtorno combatendo as causas que o produzem; tem a prevenção secundaria, com o objetivo de reduzir os efeitos do transtorno quando já se manifestou, reduzindo a gravidade de sua evolução- nesta prevenção esta inserida atividades médicas, educativas e familiar; tem a prevenção terciária que envolve todas as atividades de intervenção e de capacitação ao longo da vida, otimizando a relação social e a qualidade de vida.
No que se refere às crianças com paralisia cerebral há uma serie de alterações no curso de seu desenvolvimento psicológicos, causadas de forma direta ou indireta pelos transtornos neuro-motor característico desse tipo de paralisia.
Neste tipo de transtorno cerebral, dependendo do grau da lesão a criança pode perder as habilidades motoras e em geral tem dificuldade de realizar corretamente determinados movimentos como: andar, manipular objetos, falar, escrever etc.
Além disso, o individuo que apresenta paralisia cerebral, as suas disfunções motoras afetam todos os aspectos de sua vida, limitando suas experiências, suas possibilidades de aprender como outro e vice-versa, ou seja, a criança com PC, geralmente tem dificuldade no desenvolvimento da linguagem, da motricidade e do desenvolvimento cognitivo a qual esclareceremos abaixo.
Quanto ao déficit no desenvolvimento da linguagem a pessoa paralítica segundo Tardieu, apresenta problemas na fala e na escrita, necessitando de uma reeducação ortofônica, visto que as lesões cerebrais produzem quase sempre alterações do aspecto motor expressivo da linguagem, determinadas por uma perturbação do controle dos órgãos motores bucofonadores, que pode afetar a execução ou a própria organização do órgão motor.
Na verdade, são transtornos da linguagem causados pelas estruturas fisiológicas da boca e do aparelho fonador, podendo afetar outras funções como a mastigação, o controle da saliva, deglutição.
Quanto ao desenvolvimento da motricidade, na criança com problemas diretamente derivados da lesão cerebral ocorrem transtornos no desenvolvimento motor a exemplo do controle postural, problemas na coordenação motora fina e grossa.
Do acordo com o texto de autoria de Carmen Basil, a lesão cerebral afeta o desenvolvimento psicomotor em dois sentidos: O primeiro a interferência na maturação do cérebro causando um atraso motor e o segundo sentido é de que a presença de esquemas anormais de atitude e de movimento produz alterações nesse desenvolvimento.
No desenvolvimento cognitivo da criança que tem paralisia cerebral, há uma certa dificuldade na aprendizagem escolar, visto que este transtorno pode afetar o seu estado psicológico, de auto-eficiência e conseqüentemente afetando a sua motivação e auto estima da pessoa, já que depende bastante dos outros para se locomover.
´´Em geral, os transtornos múltiplos que incluam afecção motora, um certo grau de atraso mental e algum tipo de déficit sensorial podem interferir drasticamente no desenvolvimento cognitivo da criança´´ ( 2004, p. 222).
Os problemas sensórios motor das crianças com PC, pode interferir no desenvolvimento cognitivo, pois como já foi relatado, elas tem dificuldade de manipular, controlar e explorar o ambiente físico e isso pode construir uma série de impedimentos para o desenvolvimento da inteligência sensório motor.
Outra hipótese é de que a pessoa com paralisia cerebral como tem problemas de linguagem, o que pode acarretar em um déficit no desenvolvimento cognitivo, pois a linguagem segundo a autora Carmen Basil além de ser uma forma de comunicação é uma capacidade instrumental de maior importância para a aquisição do conhecimento e, portanto qualquer limitação ou alterações das habilidades lingüísticas pode causar problemas no desenvolvimento da inteligência.
O trabalho em equipe é o ponto chave para que a educação do portador de PC avance com sucesso, englobando a participação de vários profissionais, dentre eles o fisioterapeuta e o logopedista. A logopedia é um conjunto de técnicas capazes de proporcionar ao portador de PC um maior desenvolvimento de suas habilidades com o corpo e com a fala.
Alguns alunos com PC encontram-se integrados em escolas regulares ou em escolas de educação especial, nem sempre específica para alunos com transtornos motores. Sendo a escola regular preparada para receber o aluno com PC, as vantagens são enormes, caso não sejam preparadas o melhor é que estes alunos sejam integrados em uma boa escola especializada.
O máximo desenvolvimento das capacidades motoras não deve ser esquecido no enfoque educacional do aluno com PC, para que este venha a ter uma vida mais saudável e feliz, com suas adaptações. A busca por esse desenvolvimento não deve ficar limitada a parte clínica, o que acabaria por sobrecarregar o aluno com várias atividades.
A criança que tem PC apresenta sérias deficiências para explorar, manipular e controlar o mundo físico, ou seja, obter efeitos sobre o ambiente com a intervenção de outras pessoas, transmitir, trocar informações e afetos.
A dificuldade de controle sobre objetos, os fatos e as pessoas do ambiente que afetam a criança com PC, podem apresentar uma aprendizagem ativa de falta de sincronia entre suas respostas e as conseqüências sobre o ambiente.